quinta-feira, 26 de julho de 2007

A vacina do bom senso

Infelizmente não existem vacinas para o bom senso.
Se as houvesse haveria muitos humanos que teriam que a tomar todos os dias. E eu defenderia que esta fosse comparticipada pelo Serviço Nacional de Saúde.

Quero-vos falar hoje da vacina que previne o cancro do colo do útero. Portugal tem a mais alta incidência da Europa deste cancro, cuja principal causa é o vírus HPV, registando 900 novos casos por ano e mais de 300 casos mortais.

Em Abril, o meu PS rejeitou recomendar ao Governo a inclusão da vacina contra o cancro do colo do útero no Programa Nacional de Vacinação (PNV), proposta pelo partido Os Verdes, argumentando que "falta ainda muita informação científica". A verdade de ontem não é a verdade de hoje como confirmam as mais recentes notícias que passo a partilhar:

1. Em inícios de julho as autoridades francesas anunciaram o financiamento da vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV), que provoca o cancro do colo do útero, para mulheres entre os 14 e os 23 anos de idade. O financiamento foi decidido cerca de três meses depois do Alto Conselho para a Saúde Pública (CSHPF) francês ter recomendado a vacinação contra os quatro tipos do HPV, a fim de prevenir lesões cervicais cancerosas e pré-cancerosas, bem como de condilomas genitais. O CSHPF recomendou a vacinação universal das jovens de 14 anos e a possibilidade de vacinação das adolescentes e jovens dos 15 aos 23 anos antes de iniciarem a vida sexual ou no ano seguinte, reforçando ainda a necessidade da continuação dos programas de rastreio.

2. Ontem, o Comité Europeu da Agência para os Medicamentos de Uso Humano (CHMP) deu parecer positivo sobre uma nova vacina para prevenir o cancro do colo do útero, que deverá estar disponível no mercado português no último trimestre do ano.

3. Até ao momento, nove países europeus (Áustria, Alemanha, Itália, França, Noruega, Luxemburgo, Bélgica, Suíça e Reino Unido) recomendaram a vacinação universal de raparigas pré-adolescentes, muitas vezes associada a programas de repescagem para adolescentes e mulheres jovens. Na Alemanha, a vacinação contra o Papilomavírus Humano é comparticipada na totalidade, desde Dezembro de 2006, por fundos de seguros de saúde, que em conjunto cobrem mais de 70 por cento da população, enquanto na Suécia foi aprovada a comparticipação através de um esquema de benefícios que eram apenas aplicados a medicamentos. Em Itália, uma região já arrancou com o programa de vacinação financiado publicamente. Nos Estados Unidos, Canadá e Austrália foram decididas recomendações e financiamentos semelhantes aos europeus.

Para terminar, no dia 22 de Maio elaborei um requerimento ao Ministro da Sáude para saber em que fase é que estavam os estudos. Fui brindado na resposta com um comunicado da Direcção Geral da Saúde, anterior ao meu requerimento. Dispenso por isso comentários!

Para falar verdade não me importaria de pagar mais impostos para esta vacina fazer parte do plano nacional de vacinação. Significa salvar efectivamente vidas, mas para além disso salvá-las do sofrimento e da degradação que causam os cancros. Pois esse sofrimento é daquele que o tem e daqueles que o amam. Eles vão já sem serem eles e as marcas duram, para os que ficam...

Haja bom senso!

2 comentários:

Isa disse...

Bem, antes de mais, parabéns! Fazem falta mais blogs que falem de forma séria sobre assuntos de interesse e relevância pública, e parece-me que estás no bom caminho. ;-)
Quanto à vacina de prevenção do cancro do colo do útero, tenho pouco a dizer... acho triste que um Governo de qualquer partido, de qualquer país, considere este um assunto de segunda importância, que não merece um profundo e sério debate político e público por forma a que se tomem decisões conscientes no que toca a esta matéria.
Os números falam por si!
O cancro mata milhões de pessoas todos os anos, em todo o mundo, deixando marcas profundas e rasgadas na pele de quem por ele passa e o sente, não só na pele como no coração...
No que se refere especificamente ao cancro do colo do útero, milhares de mulheres de todas as idades, entre elas muitas jovens em início de vida, vêem a sua vida estilhaçada por um problema que podemos hoje ajudar a prevenir. Não seria esse motivo suficiente? Ou continuaremos a incentivar um mundo de injustiças sociais em que só quem pode tem um verdadeiro e efectivo acesso à saúde?
Acredito no meu Governo, devo dizer. Acredito no seu trabalho e naquilo que vejo como um esforço real em melhorar este país. No entanto, não posso deixar de me chocar quando uma vacina que pode salvar tantas vidas do desespero, da mágoa e da morte, continua a ser considerada supérfula e continuará a chegar apenas àqueles que a podem pagar!
Mas um dia, com o esforço e trabalho de muitas gerações de sol, todos juntos, ainda vamos mudar o mundo!...

Ana disse...

Parabéns pelo conceito deste blog que me parece de extrema relevância, quanto mais não seja para dar voz àqueles que se preocupam com as temáticas aqui tratadas!
Acho que já era tempo de se mediatizar e sobretudo de salientar este tema em particular que a nós mulheres tanto diz respeito!!!!
Considero altamente lamentável que num país que se diz tão liberal, com propostas tão anti fascistas, como por exemplo, o casamento entre Homossexuais (que na minha opinião não passa de uma proposta de fachada), não aprove uma medida "de tão Urgente necessidade" como é a da vacinação contra o bom senso das pessoas que acham que o cancro do colo do útero é algo de pouca prioridade.....Ora meus senhores....abram a pestana e vejam como olhos de ver que "os números falam por si", como já dizia a minha amiga Isa!
O estado da Economia é reversível? Sim!!!O estado de um cancro é reversível?Sim....mas pode não o ser....e aí???? aí???? meus amigos já "pode ser tarde demais".
Penso que quando se trata de uma questão de saúde pública, todos deveríamos intervir.!!!Como é que é possível preocuparem-se com a estupidez de um imperialista como é o Alberto João Jardim quando todos os dias morrem pessoas com cancro????
De facto, se o processo de triagem nos hospitais funciona bem (o que também não é verdade) o mesmo não acontece no Parlamento, caso contrário já tinham seguido o belo do exemplo europeu que pelo menos uma vez na vida tomou medidas correctas.
A prevenção passa por todas nós, é verdade...mas também há que admitir que há pessoas que infelizmente são pouco instruídas e que não têm a mesma capacidade de dar voz a este problema cada vez mais "assassino".
Há que começar pelas bases...e é lógico que a vacinação obrigatória contra este problema seria um óptimo começo....enfim.....até lá...ficaremos à espera que se construa mais algum estádio de futebol....ou que se construam mais A17´s....isso sim....melhorará a nossa qualidade de vida....e a nossa saúde pública!!!